CONTO 3 – Um segredo do outro mundo
O jardim era florido e organizado. Havia duas árvores altas e esguias e um caminho de terra batida que levava até ao casarão do meu Avô. As janelas eram imensas, o telhado plano e triangular e, para completar o cenário, o céu, naquela noite, estava límpido.
Eu, Catarina, vim descobrir os segredos do meu Avô. Tinha viajado mais de sete horas. Tinha de valer a pena. Depois de estacionar o carro, andei rapidamente até à porta e, com a chave que o meu Avô me dera antes do seu desaparecimento, abri-a.
Este parecia um belo lugar para explorar. Um lugar que tinha conhecido da cabeça aos pés. Agora, nem sabia por onde começar a procurar primeiro. E pensar que seria fácil.
Ao andar pelos corredores e ao passar pelos diversos quartos, dei por mim a olhar para o chão, todo sujo e empoeirado. Se eu não fosse uma jovem educada, diria que aquilo era, no mínimo, nojento. Já para não falar dos velhos tapetes que se deitavam ao longo do corredor… via-se bem que já não limpavam aquele casarão há algum tempo.
Quando subi a cabeça para olhar as paredes de tinta branca que, quando mais nova, tinham sido como um quadro para os meus retratos, vi que estavam amareladas e manchadas e os desenhos que, antes, se sobrepunham nas paredes, estavam agora desfeitos pelo corredor acima.
Finalmente, depois de grande esforço, consegui avistar o quarto do Avô. Após séculos à procura, ia fazer aquilo que me tinha levado ali desde o começo. Descobrir o grande segredo do Avô.
Uns sapatos velhos e desfeitos. O cobertor desarrumado. O armário vazio.
Tudo parecia normal, nada naquele quarto me chamava a atenção. Será que o Avô não tinha nada a esconder ou estaria eu a procurar mal?
Enquanto pensava naquilo, dei uns passos em frente e fiquei em cima do tapete de crochê que estava centrado no meio do quarto e que abraçava o chão de madeira de carvalho. Subitamente, eu congelei. O som de madeira oca percorria a sala.
Depois de me aperceber do que tinha acabado de ouvir, agachei-me levemente e, com as mãos a tremer, levantei o tapete, revelando um alçapão. Sabia que ele estava a esconder algo. Mas um alçapão? Estava para lá das minha ideias.
Enquanto o observava, apercebi-me de que estava ainda meio aberto, como se alguém tivesse entrado, mas ainda não tivesse saído. Ao pensar mais um pouco sobre o que fazer, enchi-me de coragem e desci as escadas, ainda sem saber o que iria acontecer futuramente, mas que, certamente, poderia não ser algo bom.
Ao descer, encontrei umas mesas de laboratório com engenhocas e vários papéis espalhados por elas. Seria o meu Avô um cientista maluco? Ou pior? Comecei por folheá-los… “Portal imaginário”, o que seria aquilo? Se fosse uma piada, não teria graça.
Depois de investigar a sala mais a fundo, lendo os papéis e analisando as engenhocas, provavelmente inúteis, deparei-me com uma máquina ainda ligada. Seria aquilo o tal portal da imaginação ou algo do tipo? Ao olhar para o possível portal, comecei a pensar um pouco sobre a situação em que me encontrava. Será que deveria entrar? E se eu entrasse e não conseguisse sair? E se o meu Avô estivesse algures lá dentro?
Só havia uma forma de responder àquelas perguntas. Entrando. E assim o fiz.
FIM
🔹 Como votar? Acede à ligação abaixo e escolhe o teu conto favorito. Só podes votar uma vez!
Comentários
Enviar um comentário